FATOS CURIOSOS SOBRE O ANTIGO EGITO


PARTE CINCO


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LIVRO DOS SONHOSOs egípcios usavam magia para prever o futuro. Uma das práticas consistia em interpretar os sonhos, pois entendiam que através deles os deuses podiam entrar em contato com os seres humanos. Um exemplo disso é o papiro Chester Beatty III, que registra a interpretação de alguns sonhos, datado do reinado de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) e do qual vemos um pedaço na foto acima. Aliás, o significado dos sonhos sempre foi um assunto que fascinou os antigos egípcios. Em cada página do papiro uma coluna vertical de sinais hieráticos assim se inicia: Caso um homem se veja em um sonho...; a seguir, cada linha horizontal descreve um sonho, seguindo-se a diagnose isso é bom ou isso é ruim e, finalmente, a interpretação. O texto lista primeiro os sonhos bons e depois os ruins. A palavra ruim vem escrita em vermelho, a cor do mau presságio. Eis um trecho do texto:
Caso um homem se veja em um sonho matando um boi com suas próprias mãos, isso é bom: significa morte de seu adversário;
Comendo carne de crocodilo, isso é bom: significa atuar como um funcionário público entre a sua gente;
Submergindo no rio, isso é bom: significa purificação de todos os males;
Enterrando um homem velho, isso é bom: significa prosperidade;
Trabalhando com pedra em sua casa, isso é bom: significa fixação do homem à sua moradia;
Olhando para fora de uma janela, isso é bom: significa que seus reclamos serão ouvidos;
Mirando-se em um espelho, isso é ruim: significa outra esposa;
Calçado com sandálias brancas, isso é ruim: significa perambular pela terra;
Copulando com uma mulher, isso é ruim: significa luto
Sendo mordido por um cachorro, isso é ruim: significa que ele será atingido por magia;
Olhando sua cama pegar fogo, isso é ruim: significa que expulsará sua esposa.
A altura do papiro é de 34,5 centímetros e pertence atualmente ao Museu Britânico de Londres. Para ver sua imagem ampliada, clique aqui.

CENA DO FILME FANTASIA O escritor grego Luciano, que viveu no segundo século da nossa era, conta uma estória engraçada sobre um homem chamado Eucrates que viajou para o Egito para aprender sobre os mistérios daquele país. Começando sua viagem por Tebas, no sul, tomou ali um barco para percorrer o Nilo em direção ao norte. Viajando na embarcação havia um sacerdote menfita do qual se dizia que tinha aprendido magia com a própria deusa Ísis. Eucrates viu esse homem executar muitos atos sobrenaturais e, querendo aprender aquelas habilidades, persuadiu o mágico a permanecerem juntos. Eucrates viajava acompanhado de muitos criados e o mago lhe disse que poderia dispensá-los, pois não seriam necessários. Por ver que de fato o homem viajava sem criado algum, Eucrates dispensou os seus. Quando havia uma tarefa a ser feita, o mágico punha uma peça de roupa numa tranca de porta, numa mão de almofariz, ou numa vassoura. Depois ele proferia algumas palavras mágicas e o objeto ganhava vida e executava a tarefa. Quando a tarefa se completava, o mago dizia algumas palavras adicionais e o objeto tornava-se inanimado novamente. Eucrates estava interessadíssimo em aprender o truque, mas o homem não queria revelar. Um dia, quando o mago estava repetindo os encantamentos, Eucrates escutou e aprendeu as palavras mágicas. Não sabemos que palavra era. Só sabemos que tinha três sílabas. Num dia em que o mágico saiu, Eucrates decidiu tentar o encantamento numa mão de almofariz e ordenou-lhe que fosse buscar água. Imediatamente o objeto ficou vivo e começou a buscar água para ele em um vaso. Eucrates então ordenou que ele parasse de ir buscar a água. Infelizmente, porém, o aprendiz de feiticeiro não havia escutado as palavras mágicas necessárias para parar a mão de almofariz e devolvê-la ao estado de inanição e ela continuou trazendo água. Desesperado, ele cortou o objeto ao meio, mas então as duas metades começaram a levar vasos e a trazer água. Felizmente o mágico chegou a tempo de interromper o encantamento antes que a casa fosse totalmente inundada. Muitos de nós vimos esse conto no filme Fantasia de Walt Disney. No cinema Mickey Mouse é o aprendiz, a vassoura é a mão do almofariz, e os baldes são os vasos. Verdadeira ou falsa, essa narrativa mostra que os gregos acreditavam na magia egípcia.

JARRO DE VINHO Um dos alimentos que costumavam estar presentes nas tumbas dos faraós era o vinho. Isso ocorria desde a I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.) como prova o jarro de vinho de um metro de altura e 25 centímetros de diâmetro que vemos ao lado, encontrado na tumba de um rei daquela época. No túmulo de Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) foram encontradas vários jarros da bebida. Cientistas espanhois, em 2004, examinaram esses recipientes e criaram uma técnica capaz de determinar a cor do vinho que eles continham. A análise dos resíduos demonstrou tratar-se de vinho produzido com uvas vermelhas, ou seja, vinho tinto. O rótulo de um dos jarros nos revela que o vinho foi produzido no quinto ano do reinado de Tutankhamon (c. de 1329 a.C.) e que foi um vinicultor chamado Khaa que o forneceu. Essa foi a primeira vez que a ciência determinou a cor do vinho de uma amostra arqueológica. As imagens mais antigas de que temos notícia a respeito da produção de vinho no mundo foram encontradas nas paredes de uma tumba egípcia de 2600 a.C., o que não quer dizer que a humanidade não tenha produzido aquela bebida antes dessa data. Jarros com vinho datados de 5400 a.C. já foram descobertos em áreas do atual Irã. O vinho era uma bebida de grande importância no antigo Egito, usado em rituais funerários e nos templos como oferenda aos deuses e consumido não apenas pelos faraós, mas também pelas classes socialmente mais elevadas. Agora sabe-se que o jovem rei Tutankhamon apreciava um bom vinho tinto.

TRAJE DE TUTANKHAMON As roupas que o faraó Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) usava, e que foram encontradas em sua tumba, constituem o mais antigo conjunto de vestimentas reais existentes no mundo. Infelizmente, elas estão por demais deterioradas para que se possa ter uma boa idéia de como seriam quando novas. Muitas delas perderam totalmente a cor, algumas estão completamente negras e os tecidos se estragaram bastante. Por isso, em 2000, alguns cientistas, após estudos que duraram quase dez anos, resolveram recriar várias túnicas, jaquetas e roupas íntimas do rapaz para exibi-las ao público. Eles foram capazes de interpretar os pretos e marrons dos velhos tecidos e discernir quais seriam as cores originais. As roupas reproduzidas incluem desde uma elaborada túnica bordada a ouro até uma tanga simples, um pedaço de tecido triangular usado como roupa íntima. Tudo foi feito com linho tecido à mão, simulando os métodos usados no tempo do faraó. As máquinas modernas não são capazes de produzir fio suficientemente fino para reproduzir a excelente qualidade do linho necessário, mas os cientistas recorreram a especialistas italianos e suecos que conseguiram realizar a tarefa. A exposição que foi montada exibiu 36 réplicas dentre as centenas de artigos de vestuário achados na tumba de Tutankhamon, sendo que uma delas pode ser vista na foto acima e inclui a imitação de uma pele de leopardo feita de linho, com cabeça e tudo. Algumas túnicas são bordadas com discos de ouro e contas, enquanto outras estão enfeitados com patos e cobras. O simbolismo tinha um importante papel na roupagem, como bem exemplificam os pássaros, animais e plantas reproduzidos nos artigos de vestuário. Entre as peças reconstituídas encontram-se as meias reais, feitas com uma abertura entre o dedão e os demais dedos do pé, para dar passagem às correias das sandálias de dedo de sua majestade, 47 pares das quais foram achados na tumba. Uma vez que foram encontradas roupas que o faraó usava quando criança, pode-se ter uma idéia de como se vestiam os príncipes reais. É surpreendente como as roupas têm aspecto moderno e são semelhantes às que são feitas hoje em dia. A técnica de bordado é a mesma usada atualmente. As luvas são modeladas como as atuais. A roupa íntima se parece com modelos usados antes dos anos 50. As peças de roupa se adaptam perfeitamente ao calor do clima egípcio e os vários efeitos que podem ser criados com elas são bastante sofisticados. As réplicas também resolveram o problema de como as roupas eram originalmente usadas. Os pesquisadores experimentaram os trajes e puderam perceber a função exata de muitos daqueles que têm aparência estranha. Duas peças que pareciam ser extravagantes ornatos para a cabeça, por exemplo, eram, na realidade, usadas nos braços para formar as asas do falcão de Hórus, emblema do rei egípcio. Na realidade, vários itens do vestuário estavam destinados a aumentar o prestígio do rei através do uso de motivos régios e símbolos de poder na decoração. Faixas de hieróglifos coloridos proclamavam que Tutankhamon era o Protetor de seu país e Vencedor de todos os inimigos do Egito. Até mesmo quando caminhava, ele esmagava seus inimigos a cada passo, comprimindo suas faces contra o pó, já que as imagens dos adversários estavam pintadas nas solas das sandálias douradas do faraó. As réplicas provaram que muitas das vestes eram inacreditavelmente pesadas de serem usadas, especialmente durante longas cerimônias estatais no opressivo calor egípcio. Para um adulto elas devem ter sido muito incômodas, e mais ainda para uma criança.

DEFORMIDADE DE AKHENATON Durante a fabricação das réplicas dos artigos de vestuário de Tutankhamon, a equipe de cientistas pode analisar as medidas do faraó: 78 centímetros de tórax, 73 centímetros de cintura e 109 centímetros de quadris, ou seja, um corpo em formato de pêra, aparentemente semelhante ao de outros membros de sua família, se dermos crédito à arte daquela época. Esse formato de corpo é mostrado pela arte do período em que reinou Akhenaton (c. 1353 a 1335 a.C.). O corpo deformado desse faraó é mostrado em várias estátuas, como nessa que vemos na foto ao lado. Entretanto, quando Tutankhamon subiu ao trono o país retornou à antiga religião, as imagens foram novamente idealizadas e o faraó menino foi retratado como se perfeito fosse, mas é provável que ele tenha sofrido de uma doença que provocaria crescimento excessivo dos quadris. Como se acredita que Tutankhamon tenha sido filho de Akhenaton, é possível que padecesse de uma doença hereditária, embora não exista pesquisa médica suficiente para determinar que distúrbio seria esse. Seja lá o que for que ele tenha tido, seu peso foi afetado e depósitos exagerados de gordura se formaram em seus quadris, a exemplo de seu pai.

BUSTO DE NEFERTITI O famoso busto da rainha Nefertiti vem causando polêmica há muito tempo entre egiptólogos egípcios e alemães, que brigam por sua posse. Considerada uma das obras-primas da arte egípcia, a cabeça de calcário pintado tem altura de 50 centímetros e mostra, em tamanho natural, as feições bem delineadas da rainha. A elegante coroa azul, ao que parece, era usada apenas por ela. Nefertiti, cujo nome significa a bela chegou, deve ter sido uma das mais belas mulheres do antigo Egito. Essa peça é uma das mais importantes, se não a mais importante, da coleção egípcia do Staatliche Museum de Berlim, desde que arqueólogos alemães a descobriram, em 1912, nas ruínas do estúdio do escultor Tutmósis em Tell el-Amarna, às margens do Nilo. Misterioso e atraente, o busto estava surpreendentemente bem conservado e com as cores vibrantes preservadas, apesar de ter estado oculto na areia desde os tumultuados dias do fim do reinado do faraó Akhenaton (c. 1353 a 1335 a.C.). Embora a obra aparentemente tenha sido acabada, só tem um olho. O olho esquerdo é uma concavidade preenchida com gesso branco. Ninguém entende a razão, já que o busto está meticulosamente esculpido e até mesmo o ruge foi pintado nos proeminentes ossos da bochecha. Muita tinta foi gasta para tentar explicar a falta daquele olho. Talvez o busto fosse usado apenas como objeto de estudo pelos alunos do artista. Talvez, especularam alguns egiptólogos românticos, o escultor tenha achado que o busto estava perfeito demais e, então, removeu um olho para evitar ofender aos deuses. Ou talvez ele estivesse na iminência de colocar o olho no lugar quando o reinado do rei herético desabou sobre sua cabeça. Em outras palavras, talvez os sacerdotes do deus Amon estivessem atacando violentamente as edificações reais e o artista se visse obrigado a enterrar às pressas o busto inacabado na areia. Na realidade, ninguém sabe o que aconteceu com ele e nem mesmo com a rainha Nefertiti. Há até mesmo uma lenda recorrente de que o olho que falta na realidade existe. Ele estaria embrulhado em lenço de papel numa caixa escondida em algum lugar nos porões do museu berlinense. Seja como for, o busto sobreviveu aos ataques aéreos da II Guerra Mundial que destruíram o museu, sobreviveu à divisão de Berlim pelo muro e continua sendo uma das maiores atrações turísticas da cidade alemã. Os egípcios gostariam de ter a obra-prima de volta e essa polêmica não é nova. Quando, nos anos 30, as autoridades egípcias exigiram o retorno do busto, Hitler interveio para insistir que ele deveria ficar na Alemanha. Atualmente a direção do museu afirma que a escultura permanecerá em Berlim.





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