A MINERACAO PARTE DOIS



MINERAÇ&AtildeO Várias fontes de minerais estavam localizadas a leste do Egito. Uma delas era o monte Sinai, de onde os egípcios extraíram turquesas, desde a III dinastia (2649-2575 a.C.) até o fim do Império Novo (1070 a.C.), e cobre, no período entre a XVIII e a XX dinastias (1550 a 1070 a.C.). No que se refere às turquesas, em certas épocas houve um povoamento egípcio permanente na zona de sua extração. Já no que diz respeito ao cobre, parece que as minas eram exploradas pela população local, sob controle dos egípcios. Não parece que eles tenham extraído cobre diretamente em qualquer local do Sinai, a menos que não considerassem essa atividade suficientemente importante para registrá-la. Convém lembrar que para chegar ao Sinai era necessário realizar uma longa viagem: ou se fazia um percurso por terra contornando o Golfo de Suez; ou se viajava por terra e mar, atravesando o deserto oriental e depois o Golfo de Suez.

Nessa região do Sinai as minas do wadi Maghara foram as primeiras a serem exploradas. Nelas os arqueólogos encontraram relevos e inscrições nas rochas que datam dos três primeiros faraós da III dinastia, ou seja, Senáquete (c. 2649 a 2630 a.C.), Djoser (c. 2630 a 2611 a.C.) e Sekhemkher (c. 2611 a 2603 a.C.). A última expedição mineradora ao local que se tem notícia no Império Antigo foi a de Pepi II (c. 2246 a 2152 a.C.), realizada por volta do terceiro ano do seu reinado. Alguns soberanos dos Impérios Médio e Novo também ordenaram extração de minérios naquela localidade, mas em escala bem menor do que a dos faraós do Império Antigo.

Outro local de onde se extraia turquesas era o wadi Kharit. Aí foram localizados textos das épocas dos faraós Sahure (c. 2458 a 2446 a.C.) e Sesóstris I (1971 a 1926 a.C.). Nas proximidades também foi encontrada uma estela do 20º ano do reinado de Amenemhet III (c. 1844 a 1797 a.C.).

Entretanto, o local mais importante do Sinai como fonte de minerais para os egípcios foi Serabit el-Khadim, onde foi erguido um templo da deusa Hátor, cuja parte mais antiga data da XII dinastia (1991 a 1783 a.C.). Essa divindade era a padroeira dos mineiros e um dos seus epítetos era o de senhora das turquesas. Ramsés VI (c. 1151 a 1143 a.C.) é o último nome de faraó encontrado nesse sítio.

O cobre não existia em estado nativo no Egito, mas sim combinado com outros elementos. Era empregado para pequenos implementos tais como agulhas e brocas. Várias áreas exibem traços da antiga mineração e fundição do cobre, tanto no deserto oriental quanto no Sinai, no wadi Maghara e em Serabit el-Khadim, já citados.

O mineral em estado bruto era fundido nas cercanias da mina ou era arrastado em trenós para o ponto mais próximo onde se pudesse obter suprimento suficiente de lenha. O mineral bruto era triturado e misturado com carvão de lenha sobre o solo ou dentro de uma cova arejada e por tentativa e erro os operários descobriam a melhor localização do fogo para o aproveitamento ideal das correntes de ar. Nos túmulos existem representações do trabalho metalúrgico que mostram o metal sendo fundido em cadinhos abertos de barro colocados sobre fogo de carvão, cuja temperatura era elevada assoprando-o por intemédio de canudos. A cena do alto desta página está representada em Saqqara, na mastaba de Mereruka, que viveu na VI dinastia (c. 2323 a 2150 a.C.). No princípio do Império Novo (c. 1550 a.C.) uma espécie de fole foi introduzida: um par de bolsas de pele infláveis manobradas pelos pés e com a corrente de ar dirigida para as cinzas através de bicos de barro. Embora bastante primitivo, o método permitia obter a temperatura necessária para fundir o metal. Entretanto, a quantidade de mineral em estado bruto que podia ser utilizada de cada vez era pequena e o metal produzido continha alto grau de impureza, já que o único método para o refino consistia em aquecer o minério por vezes sucessivas.

A adição de pequenas proporções de estanho ao cobre produz o bronze e permite um ponto de fusão mais baixo, aumenta a dureza do metal e facilita sua fundição. É incerta a data da introdução do bronze no Egito. Parece que tal não aconteceu antes do Império Médio, mas daí em diante foi usado com regularidade em ferramentas e armas, até ser substituído pelo ferro. De qualquer forma, o estanho não ocorre no Egito e não sabemos se o bronze utilizado era todo ele importado já manufaturado, ou se a liga de cobre e estanho era produzida nas oficinas egípcias. Os estudiosos não identificaram entre os hieróglifos uma palavra que significasse "estanho", embora existam vários nomes conhecidos de minerais na escrita egípcia. Antes da introdução do estanho no Egito, o bronze era endurecido pela adição de arsênico. Também não sabemos como ou onde o arsênico era obtido, mas acredita-se que tenha sido de fontes externas ao país. Esse cobre arsenical foi empregado desde o início do período dinástico até o Império Médio, inclusive nessa época, após a qual foi largamente suplantado pelo bronze.

Outros minerais e pedras semipreciosas estavam espalhados pelo deserto oriental e foram explorados, ainda que em menor escala. Entre eles podemos citar: ágata, calcita, cornalina, granada, jaspe, etc.

A Núbia, região localizada ao sul da primeira catarata, também se constituia em importante fonte de ouro, minerais e madeira. O comércio com a região e o ouro que de lá vinham formaram grande parte da riqueza e do poder dos faraós. Entretanto, por falta de água, tornava-se deplorável a condição dos mineiros que eram enviados para lá. Uma estela do faraó Ramsés II (c. 1290 a 1224), encontrada em Kuban, localidade que fica a 108 quilômetros ao sul de Assuan, diz, referindo-se a uma região situada a este da segunda catarata:

Há muito ouro, dizia-se, na região de Ikaita, mas, por causa da água, a sua estrada é em extremo penosa. Quando alguns dos condutores que lavam o ouro se dirigem na sua direção, só metade deles consegue lá chegar. Os outros morrem de sede pelo caminho, com os burros que marcham à frente. Eles não encontram a sua ração de bebida nem à ida nem à volta, com a água dos odres. Portanto, já não se pode trazer ouro dessa região devido à escassez de água.

O pai de Ramsés II, o faraó Seti I, mandou cavar um poço com 120 côvados de profundidade naquela região, mas os trabalhos foram abandonados no meio do caminho sem que a água tivesse surgido. Apesar disso, ao subir ao trono, seu filho retomou a tarefa obtendo sucesso. Agora os mineiros não mais morriam no caminho, mas o trabalho continuava a ser extremamente pesado.



As Balanças
A Mineração — Parte 1

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