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MÚMIA DE ALAN BILLIS Um motorista de taxi britânico, com câncer pulmonar em estágio terminal, apresentou-se como voluntário para ser mumificado por uma equipe de cientistas. Em 2010 uma emissora de TV norte-americana veiculou um anúncio que dizia: "Estamos interessados em falar com alguém que, sabendo que tem uma doença terminal, não obstante consideraria passar por um processo de um embalsamamento egípcio antigo." Acrescentava-se que não seria feito qualquer pagamento, mas que todas as despesas seriam cobertas. Alan Billis, um aposentado de 61 anos de idade, morador de Torquay, cidade do sudoeste da Inglaterra, se interessou pela oferta. Ele afirmou: Pessoas têm deixado seus corpos para a ciência durante anos e se as pessoas não se voluntariassem para qualquer coisa, nada seria descoberto. Se não funcionar, não será o fim do mundo, não é? Não fará qualquer diferença para mim, eu nada vou sentir. Ainda assim, é extremamente interessante.

Procurando usar técnica semelhante àquela utilizada em Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.), uma equipe conduzida pelo professor e eminente patologista forense Peter Vanezis usou um método desenvolvido pelo doutor Stephen Buckley, químico e pesquisador da Universidade de York, que vem estudando o processo de mumificação há mais de 20 anos. Buckley focou sua pesquisa na XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.), a qual produziu as múmias melhor preservadas conhecidas até hoje. Uma de suas descobertas importantes foi a de que, ao contrário da convicção popular, nem todas as múmias daquele período tiveram seus cérebros removidos pelo nariz. Nos testes o cientista mumificou mais de duzentas pernas de porcos, que têm tecido bem parecido com a carne humana e até transformou seu ambiente de trabalho para reproduzir as condições desérticas do Egito.

O primeiro passo foi a remoção de todos os órgãos do cadáver, menos o coração e o cérebro. Os órgãos retirados, depois de passarem por um processo de mumificação semelhante ao do corpo, foram mantidos em jarros de vidro. As cavidades toráxica e abdominal foram lavadas com uma solução de álcool e resina de pinheiro, o mesmo que os egípcios usavam como agente bactericida. Bolsas de linho com especiarias e serragem foram introduzidas no abdómen para manter o formato do corpo e a incisão de quatro polegadas que havia sido feita foi costurada e selada com cera de abelha quente.

O ingrediente chave para secar o corpo e retirar toda a água seria o sal de natrão, de acordo com o que Heródoto descreveu. Entretanto, Buckley observou que as múmias da XVIII dinastia que melhor se preservaram apresentam na carne estruturas incomuns parecidas com flocos de neve. O sal seco não produziria esse tipo de estrutura e deixaria as múmias emaciadas, pois a água seria retirada por osmose. O cientista acredita que os corpos mumificados no auge da arte do embalsamamento eram colocados em um banho de água salgada. Note-se, de passagem, que traduções primitivas do texto de Heródoto sugerem este método. Nesse caso o sal transformaria a pele e a gordura do corpo gradualmente e deixaria flocos de sal. O método parece estranho porque na realidade está sendo usada água para secar um corpo. A água normalmente apressaria a decomposição, mas a solução de natrão é diferente: é tão cáustica que pode soltar uma camada da pele. Contra isso foi usado um antigo truque egípcio: o corpo foi untado com um conjunto de ingredientes naturais que incluem óleo de gergelim e cera de abelha, os quais formaram uma camada protetora depois de secos. A imersão do cadáver no banho de natrão durou 35 dias, o que permitiu que as necessárias alterações químicas ocorressem. A seguir ele foi secado durante duas semanas em uma câmara especial que reproduzia a alta temperatura e a baixa umidade do Egito. Logo após foi envolvido por bandagens de tiras de linho cortadas em dimensões variadas para se ajustarem às diferentes partes do corpo. Cada camada foi lacrada com resina de pinho derretida e cera de abelha, permitindo assim que a secagem continuasse, que a luz e os insetos ficassem do lado de fora e que as partes do corpo permanecessem intactas. Por último, o morto e seus órgãos foram colocados de volta na câmara especial e lá deixados para secar por mais seis semanas.

ALAN BILLIS COM A ESPOSA Depois do serviço terminado, Jan Billis, a viúva do morto, que vemos ao lado junto ao marido, fez uma visita de despedida ao defunto e deixou no local algumas das fotografias favoritas de Alan e desenhos feitos pelos netos como lembrança. Ela brincou dizendo: Eu sou a única mulher no país que tem uma múmia como marido. Todo o procedimento levou três meses para ser concluído e foi considerado um sucesso por vários cientistas especializados no assunto. Meses após a experiência um exame demonstrou que o corpo se encontrava em excelente estado de conservação. No entender do professor Vanezis a pele adquiriu a aparência de couro o que indicaria que o morto foi mumificado inteira e corretamente.