CARTUCHO DE NARMER

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PALETA DE NARMER O primeiro evento histórico importante que conhecemos com relação ao Egito é a unificação de dois reinos pré-históricos que até então dominavam o país: um ao norte — Baixo Egito — e outro ao sul — Alto Egito. Em uma data que pode oscilar entre 3200 e 3000 a.C. o rei do Alto Egito dominou também a região do Baixo Egito.

As fontes arqueológicas denominam esse personagem de Narmer, nome que aparece em listas de reis deixadas por faraós posteriores e nas fontes clássicas. A representação do seu nome, como é mostrada na sua paleta e em outras inscrições, é composta por um cinzel colocado abaixo de um bagre. Esse nome aparece em Abido, em selos dos túmulos dos faraós Den e Qaa, ambos da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.); em vasos de barro em regiões do Delta oriental e, ainda, em objetos encontrados em Hieracômpolis tais como fragmentos de jarros, além de surgir numa cabeça de clava de guerra. A palavra Narmer significa Bagre Doloroso, o que se enquadra perfeitamente com a série de nomes de animais ameaçadores adotados por alguns monarcas como, por exemplo, "o Escorpião" e a Serpente Uraeus. São nomes adequados para a época crítica de embates no país e que definiam a política real implacável contra os recalcitrantes.

A tradição, entretanto, chama-o de Menés. Na verdade, as tradições egípcias associam com insistência a unificação do país a um rei de nome Men, o qual os gregos chamaram de Menes. Maneton, o historiador que viveu na época helenística e que elaborou uma lista dos faraós, dá esse nome ao legendário primeiro faraó egípcio. Talvez Narmer fosse o nome de Hórus do rei e Menés o nome de nascimento. Entretanto, não foram encontrados traços da existência desse famoso Menés. Alguns autores consideram que esse nome possa ser um mito que englobe vários soberanos. Por outro lado, — esclarece o historiador Jean Vercoutter — temos documentos que se referem ao período imediatamente anterior à unificação do país. Em Hieracômpolis, que, supõe-se, foi a capital dos reis do Sul dessa época, encontraram-se monumentos que representam um rei chamado Escorpião lutando contra os egípcios do Norte. A autoridade de Escorpião, ao que parece, se estendeu até o norte de Mênfis, e o verdadeiro unificador do país presume-se tenha sido seu sucessor, Narmer.

O primeiro documento histórico comprobatório da união do Sul com o Norte é a famosa Paleta de Narmer, da qual vemos um detalhe no topo desta página. Essa peça tem sido interpretada como sendo uma oferenda de agradecimento pela vitória definitiva do reino do sul sobre o do norte. Ela foi encontrada no templo de Hórus em Hieracômpolis por J. E. Quibell, em 1897-98, e acha-se atualmente no Museu Egípcio do Cairo. Mede 50,8 cm de comprimento e é confeccionada em ardósia.


PALETA DE NARMER
O escritor Federico Mella assim a descreve: Sobre uma das faces aparece um rei que, com a coroa vermelha do Baixo Egito, se dirige para os dez inimigos decapitados; na parte central, dois animais estranhos formam com seus longos pescoços uma cavidade onde se depositava o unguento para proteger os olhos das doenças; embaixo, um touro, simbolizando a força do rei, ataca a chifradas os muros inimigos. Nós podemos acrescentar que o rei marcha na companhia de seus oficiais e dos porta-estandartes do seu exército e que os cadáveres amarrados, decapitados e com as cabeças entre as pernas são os derrotados do norte do país. Leia uma curiosidade sobre este trecho da paleta clicando aqui. Os dois animais mitológicos centrais simbolizam a reconciliação entre o Alto e o Baixo Egito.



Federico Mella prossegue: Na face oposta, o mesmo rei, com a coroa do Alto Egito, sacrifica um prisioneiro enquanto o deus-falcão (Hórus) lhe apresenta outros seis mil prisioneiros representados em hieróglifos por um rosto barbudo e seis flores do pântano. O prisioneiro submetido, explica a legenda, pertence ao nomo do Arpão. Aparecem, ainda, a curiosa figura do "porta-sandálias" do rei e, no registro inferior, inimigos mortos e nus. No alto, entre as duas cabeças de Hátor, o nome de Narmer aparece nas duas faces da peça.

PALETA DE NARMER
Como o rei usa a coroa do Sul em uma das faces da paleta e a do Norte na outra, os estudiosos entendem que não há dúvida de que a guerra que é comemorada naquela peça teve como resultado a conquista e a anexação do Delta. Interpreta-se a paleta no sentido de uma manifestação de vitória: o rei usando a coroa do Alto Egito e massacrando o inimigo, em um gesto triunfal, simbolizou nessa cena a vitória sobre o país do papiro, o Baixo Egito, e seus habitantes.

Também no templo de CLAVA DE NARMER Hórus em Hieracômpolis os arqueólogos encontraram uma cabeça de clava com o nome de Narmer, a qual ele deve ter depositado naquele local a título de "ex-voto". Sobre ela há três teorias. A de Flinders Petrie e outros estudiosos é a de que a clava representa o casamento de Narmer com a princesa Neithotepe. Outros analistas acreditam que as ilustrações da clava mostram uma celebração feita pelo rei para comemorar a conquista do Norte. Um terceiro grupo, finalmente, pensa que se trata da comemoração do festival Sed do faraó. Estudos mais recentes, entretanto, consideram que as cenas não são comemorativas no seu conjunto, mas apenas versões pictóricas de acontecimentos. Seja como for, o foco principal da cena é a figura do rei que aparece sentado ao trono, envolto em um longo manto, sob um baldaquim colocado num alto pedestal, usando a Coroa Vermelha e segurando um mangual. O ambiente no qual o faraó se encontra pode ser interpretado como um santuário ou um templo.

CLAVA DE NARMER










Nekhbet, a deusa abutre de Hieracômpolis, protege o rei voando sobre sua cabeça. Ele está acompanhado de figuras menores de portadores de leques, guarda-costas com longos bastões e por um oficial que tanto pode ser um vizir quanto o herdeiro do trono. Em frente de Narmer três homens realizam uma corrida vindo na direção do rei e sobre eles vemos quatro homens carregando estandartes do exército faraônico. Os corredores talvez representem dançarinos de Buto dando as boas vindas ao novo soberano do Delta. Face a face com o faraó há uma figura sem barba, sentada em um palanquim e também envolta em manto, sobre a qual se vê uma cercadura envolvendo uma vaca e um bezerro, emblema de um nomo. Essa figura sentada talvez seja o chefe de Buto e não a princesa, como supunha Petrie. Abaixo de todas essas figuras existem símbolos numéricos do que parece ser um recenceamento do Baixo Egito. Eles relacionam 400 mil cabeças de gado, um milhão e 422 mil pequenos animais, e 120 mil homens. Esse último número não inclui mulheres e crianças, o que indicaria uma população total no Delta de cerca de 600 mil pessoas. Estaria, então, a cabeça de clava registrando o término da conquista do Baixo Egito, não com uma cerimônia de casamento etc., mas com a primeira aparição do rei e com a contagem do povo do Delta.

Foi esse homem originário de Tínis, no Alto Egito, onde residia sua família, que unificou os dois reinos então existentes no Egito e fundou o primeiro grande reinado do mundo. Provavelmente ele já nasceu como rei do Alto Egito e, após dominar o país, fundou e instalou a capital em Mênfis (Mennufer), localizada próxima à fronteira das regiões Norte e Sul, numa posição estratégica na ponta do Delta e importante economicamente. Conta a lenda que para fundar a nova capital do Egito desviou o curso do rio Nilo e ergueu uma grande praça forte que passou a ser conhecida como O Grande Muro Branco ou A Balança dos Dois Países. Inicialmente, porém, Narmer deve ter considerado Buto como a capital do Delta que ele acabara de conquistar. Numa das faces da sua paleta há um grupo de hieróglifos que se lê Ta Mehu, que era o nome dado pelos egípcios à região do Delta. Como nesse lado Narmer é mostrado com a Coroa Vermelha, ao que parece foi ele o primeiro a atribuir essa coroa ao Delta como um todo e, portanto, ao Baixo Egito, embora a origem dela fosse a região do Alto Egito.

HIERÓGLIFO DE NEITHOTEPEO historiador grego Diodoro da Sicília diz que Narmer ensinou ao povo a se servir de mesas e leitos e introduziu no Egito o luxo e um gênero de vida extravagante. Casou-se com uma princesa do norte, Neithotepe, cujo nome representado em hieróglifos e extraído de um selo de jarro vemos ao lado, provavelmente numa tentativa de legitimar politicamente sua conquista; combateu contra os líbios e teria governado por 62 anos. Não se sabe exatamente até que ponto Narmer consolidou sua conquista, mas fragmentos de peças de barro com seu nome inscrito foram encontrados ao sul da Palestina, o que faz supor que seu poder se estendeu até lá. Além de atividades guerreiras, enviou expedições comerciais ao deserto oriental e seu nome foi encontrado nos rochedos que margeiam a grande rota comercial entre Koptos e Quseir. Ele teria, ainda, instituído o culto aos deuses e o sistema de oferendas a favor deles. A maneira como conduziu os negócios do Estado parece ter sido, de modo geral, digna de elogios.

Narmer teria morrido de forma trágica ao ser atacado por um hipopótamo em uma caçada. Seu túmulo foi encontrado em Abido. Era uma grande fossa, toda revestida de tijolos, medindo 11 por 9,4 metros, ou seja, com 103,4 m². A tumba de Neithotepe foi encontrada em Naqada e nela foram achados objetos nos quais figuram os nomes de Narmer e do rei Aha, do qual ela era progenitora. Trata-se de um túmulo muito maior do que o do rei, medindo 53,4 por 26,7 metros, isto é, quase 1426 m², fazendo supor que a tumba de Namer era apenas um cenotáfio. O túmulo da rainha apresenta uma estrutura acima do solo cujas fachadas são formadas por painéis alternados de saliências e reentrâncias, conhecida como fachada de palácio. As câmaras funerárias foram construídas ao nível do solo, dentro dessa estrutura. Parece estranho que ela tenha sido enterrada ao sul, tão longe de suas origens, e a hipótese aventada é a de que tenha morrido antes do domínio total do Baixo Egito por parte do rei.

NomeNarmer
Avós---
Pai---
Mãe---
EsposaNeithotepe
Filhos---
Pirâmides construídas---
TúmuloProvavelmente na necrópole de Abido
Múmia---