OS TEXTOS DOS SARCÓFAGOS



TEXTOS DOS SARCÓFAGOS Durante o Primeiro Período Intermediário (c. de 2134 a 2040 a.C.) os sepultamentos tornaram-se menos elaborados e a tumba raramente era decorada. Foi dada, então, uma maior atenção para o ataúde, o último receptáculo do corpo. Usava-se com frequência caixões de madeira, geralmente decorados nas partes internas com textos e ilustrações que desempenhavam a mesma finalidade das inscrições e cenas murais usadas nos túmulos do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.): assegurar o bem estar do morto através de meios mágicos. Esquifes dessa espécie eram muito comuns durante a XI dinastia (c. 2040 a 1991 a.C.) e também foram usados no sepultamento de nobres provinciais e oficiais de prestígio durante a XII dinastia (1991 a 1783 a.C.), já no Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.).

Foi justamente a partir desses períodos que os textos das pirâmides, anteriormente de uso exclusivo dos faraós, passaram a ser empregados também pelos nobres e pequenos chefes locais como a parte mais importante da decoração de seus esquifes. Nessa nova utilização os textos sofreram alterações: grande parte das fórmulas mágicas e dos rituais foi eliminada ou modificada, adaptando-se ao emprego por pessoas comuns. Mesmo assim sobraram mais de mil orações protetoras. Os escritos deixaram de apresentar um tom dogmático e oficial para se tornarem reflexos dos desejos e preocupações de seres humanos. São comuns fórmulas que visam garantir oferendas funerárias ao morto e pedidos de proteção a vários deuses do panteão egípcio. Essa coleção de textos funerários — que os arqueólogos modernos chamam de textos dos sarcófagos — passaram a ser redigidos em escrita hieroglífica cursiva na parte interna dos caixões retangulares usados para sepultamento nessa época histórica. Os títulos eram grafados com tinta vermelha e o restante do texto com tinta preta, imitando os manuscritos sobre papiro.

Em uma das laterais de sua parte externa, tais caixões de madeira podiam exibir os dois olhos de Hórus, que tanto serviam de amuleto de proteção para o corpo do morto como lhe permitiam olhar para o exterior. Às vezes, por sob os olhos, desenhava-se uma porta falsa pela qual o espírito do morto poderia deixar o caixão. Outra característica bastante comum nesses ataúdes era a existência do assim chamado friso de objetos, os quais continham representações de vários objetos: alguns eram amuletos e outros destinavam-se a um uso prático. Aliás o espírito de praticidade dos egípcios também se manifestava nos assuntos funerários. No ataúde de um alto oficial de nome Gua, por exemplo, vê-se um mapa pelo qual o falecido poderia encontrar o seu caminho no mundo subterrâneo.

A adaptação feita dos textos das pirâmides para uso por pessoas que não pertenciam à realeza foi o resultado de uma democratização da vida dos egípcios, a qual se seguiu à quebra do poder real exclusivo, ocorrida no final do Império Antigo. A anarquia política do Primeiro Período Intermediário fez com que surgissem diversos tipos de questionamentos, inclusive no que se refere às crenças funerárias. O resultado foi a ampliação do "direito" de obter uma boa vida no além-túmulo para todos aqueles que pudessem pagar por isso através, entre outras coisas, da inscrição de fórmulas mágicas salvadoras em seus ataúdes. Isso, entretanto, não descartava os ensinamentos de que a virtude moral do morto também era muito importante.


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