O CROCODILO DOMESTICADO


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UM CROCODILO OU UM HOMEM COM CABEÇA DE crocodilo representavam Sebek, um deus que os Textos das Pirâmides dizem ser filho da deusa Neith. Ele era aliado do implacável deus Seth e teria emergido das águas do caos por ocasião da criação do mundo. A palavra egípcia que o designava era mzh representada pelos seguintes hieróglifos: O hieróglifo para M é uma coruja, Z é um ferrolho de porta, e H uma corda torcida; por último temos um crocodilo para tornar claro o significado da palavra. O centro de culto da divindade era Crocodilópolis, na região do Fayum, a qual no Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) era apenas uma área aquática alagadiça onde pululavam os crocodilos. Obras executadas na região pelos faraós da XII dinastia (1991 a 1783 a.C.) tornaram-na cultivável. Naquela cidade, situada junto ao lago Moeris, capital do oásis e chamada de Shedet pelos egípcios, foi construído, no Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.), o principal santuário de Sebek e a partir daí a adoração desse animal cresceu de importância e seu culto se expandiu por todo o Egito. Em Crocodilópolis o animal era protegido, nutrido e domesticado e muito justamente considerado o senhor das águas e temido por sua ferocidade, já que eliminava todos os seus inimigos aquáticos. Esse crocodilo de bronze com incrustações de eléctron que vemos acima talvez seja proveniente de lá. Mede 22,4 cm de comprimento, data da XII dinastia e atualmente encontra-se em um museu de Munique. Um homem ferido ou morto por um crocodilo era considerado privilegiado.

O HISTORIADOR GREGO HERÓDOTO (aprox. 480-425 a. C.) é quem conta:

Parte dos egípcios encara o crocodilo como animal sagrado; mas a outra parte move-lhe guerra. Os que habitam as vizinhanças de Tebas e do lago Moeris têm pelos referidos anfíbios muita veneração. Escolhem sempre um para criar e domesticar. Nas orelhas desses crocodilos põem brincos de pingentes em pedras artificiais ou em ouro e pequenas correntes e braceletes nas suas patas dianteiras. Dão-lhe alimentos especiais e cuidam dele da melhor maneira possível enquanto vive. Quando morre, embalsaman-no e depositam-no numa urna sagrada.
NA OUTRA EXTREMIDADE DO EGITO, constata Heródoto:

Os habitantes de Elefantina e das vizinhanças não consideram, absolutamente, os crocodilos animais sagrados, não tendo nenhum escrúpulo em comê-los.

OS CAMPONESES E BARQUEIROS eram obrigados a conviver com os ferozes crocodilos e recitavam encantamentos para tentar afastar o perigo. Por outro lado, a lenda diz que os habitantes de Dendera eram imunes aos ataques desses monstros. Uma canção de amor faz alusão a isso:

O amor de minha bem-amada, sobre a outra margem, está em mim... mas um crocodilo mantém-se sobre o banco de areia. Dentro d'água, patinho na corrente... acho o crocodilo semelhante a um rato, pois meu amor por ela me fortalece: ele será para mim como o Charme das Águas...
O BELÍSSIMO templo de Kom Ombo, da época greco-romana, foi dedicado ao deus Sebek. Situado sobre uma colina às margens do Nilo, tinha edifícios anexos e ficava dentro de um recinto cercado de muros de tijolo que dispunham de dois portais abrindo para o rio. Em seus arredores existia uma necrópole de crocodilos embalsamados. Localizada entre Edfu e Assuão, Kom Ombo é a antiga Pa-Sebek, ou seja, a casa de Sebek. O templo foi construido pelos ptolomeus que adaptaram um antigo templo edificado por Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.).

SABE-SE, TAMBÉM, que no ano 10 a.C., no lago Moeris, sacerdotes egípcios mantinham um crocodilo domesticado, alimentado com bolos e vinho feito de mel. Textos de culto fazem supor que em outras localidades também os crocodilos desempenhavam um papel importante em certas cerimônias que se realizavam nos lagos sagrados. Uma das causas dos cultos pode ter sido a tentativa de apaziguar a ferocidade desses animais. O historiador grego Plutarco (c. 50 a 125 d.C.) procura explicar os motivos da adoração dos egípcios pelo crocodilo escrevendo: O crocodilo é venerado devido a uma plausível razão. Diz-se, com efeito, que é imagem de Deus, por ser o único animal que não tem língua. A razão divina não tem, efetivamente, necessidade de articular sons para manifestar-se. (...) Diz-se também que é o único animal que, vivendo na água, tem seus olhos cobertos por uma ligeira membrana transparente, que baixa desde sua fronte, de maneira que pode ver sem ser visto, coisa que constitui do mesmo modo o privilégio do primeiro dos deuses. Já para outro historiador grego, Diodoro de Sicília, no Egito os crocodilos são sagrados por serem os animais que melhor servem para a defesa do país. Os bandoleiros da Arábia e Líbia não se atrevem a atravessar o Nilo a nado por temor aos numerosos crocodilos; não sucederia assim se os caçadores os perseguissem encarniçadamente.


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