COMO FORAM CONSTRUIDAS


A PEDRA ARTIFICIAL


PARTE TRES

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MALHO E CINZÉIS Tendo em mente o fato de que as ferramentas usadas na construção das pirâmides foram tão ou mais primitivas do que esse malho de madeira, esses cinzéis de bronze ou essas pedras de dolerito, usadas para trabalhar os blocos mais duros, Davidovits pondera que as teorias tradicionais de construção daqueles monumentos por meio de corte e içamento de pedras suscitam questões que nunca foram respondidas devidamente. Por exemplo: se os blocos da
PEDRAS DE DOLERITE Grande Pirâmide tivessem sido cortados e fossem levados em conta os restos, resíduos e aparas desse trabalho, o peso total da pedra usada teria chegado a quase 15 milhões de toneladas — o que seria um enorme fardo para a teoria tradicional. E pergunta ainda o autor: Utilizando pedra e ferramentas de cobre, de que modo teriam os trabalhadores conseguido tornar inteiramente lisas as faces da pirâmide? Como conseguiram que os lados se encontrassem em um ponto perfeito no topo? Como tornaram tão planas as camadas? De que modo poderia o número necessário de trabalhadores manobrar e mover-se no canteiro de obras? Como tornaram tão uniformes os blocos? De que modo alguns dos blocos mais pesados foram colocados a grandes alturas? De que modo puderam dar a 10,5 hectares de blocos de revestimento um ajustamento que tem a espessura de um fio de cabelo ou ainda menos? De que maneira pôde todo este trabalho ser realizado em cerca de 20 anos? Os especialistas só podem dar palpites. E egiptólogo algum nega que os problemas não foram resolvidos.

Levando-se em conta o tempo gasto para edificação de uma pirâmide e o número de trabalhadores envolvidos na tarefa, é óbvio que uma enorme quantidade de pessoas conhecia, ou pelo menos via, o método realmente usado na construção. Esses métodos, por conseguinte, — afirma Davidovits — não podem ter sido secretos e provavelmente devem ter sido documentados. No século XIX, procedeu-se à decifração da maioria dos textos hieroglíficos e cuneiformes, que não foram atualizados de modo a refletir achados arqueológicos correntes ou progressos científicos. Todos eles refletem as limitações dos conhecimentos científicos da época. Não podem, por isto, ser inteiramente exatos, e tampouco conclusões precisas sobre a tecnologia antiga podem ser alcançadas com base neles.


ENCAIXES DA GALERIA Davidovits acredita ter encontrado explicação para a existência dos entalhes verticais e encaixes existentes no interior da grande galeria da pirâmide de Kéops. Segundo o autor, eles foram necessários para a moldagem dos blocos. Conforme explica, os blocos retangulares empregados na grande galeria tinham que ser produzidos com os moldes na posição horizontal, pois caso fossem moldados inclinados sua forma ficaria desigual. O mecanismo de sustentação foi uma prancha de madeira presa ao sulco apropriado na parede. O topo de cada sulco é horizontal em relação ao entalhe seguinte, que fica em cima. A prancha foi talvez compensada com um saco de areia. A remoção do peso soltava a estrutura de madeira, e o bloco acabado podia ser descido e empurrado para a posição que ocuparia.

MOLDAGEM DE BLOCOS


Para ver detalhe de um dos encaixes da grande galeria, clique aqui e para ver detalhe de um dos entalhes verticais, clique aqui.

No ano de 1987 dois arquitetos franceses realizaram medições na Grande Pirâmide em busca de câmaras secretas. Nada encontraram mas, usando equipamentos especiais, mediram toda a densidade do monumento e constataram uma densidade total 20% mais baixa do que a esperada do calcário. A densidade mais baixa — esclarece Davidovits — é uma consequência da agregação. Blocos moldados são sempre 20 a 25% mais leves do que a rocha natural, porque se encontram cheios de bolhas de ar.

As portas levadiças encontradas nos subterrâneos da pirâmide de Kéfren pesam duas toneladas e exigem a força de pelo menos 40 homens para movê-las. Entretanto, o recinto no qual elas se encontram não comportam mais do que oito homens em seu interior. Faz sentido dizer — afirma Davidovits — que as pesadas portas levadiças dessa e de outras pirâmides foram moldadas no local. Além disso, certos aspectos, como a largura uniforme dos blocos dessa pirâmide, constituem prova esmagadora da moldagem de pedra, e, tal como no caso dos blocos da Grande Pirâmide, as alturas dos mesmos na pirâmide de Kéfren são alternadas.

A partir da V dinastia as pirâmides construídas foram de qualidade muito inferior àquelas das dinastias anteriores. Apesar disso, apresentam alguns aspectos notáveis como, por exemplo, belíssimos altos relevos nas paredes dos templos funerários. Os egiptólogos — esclarece Davidovits — não conseguem explicar por que os egípcios desse período concentraram-se em abundantes decorações de paredes de templos e não na construção de grandes pirâmides e tampouco por que os trabalhadores passaram a retirar blocos de monumentos mais antigos para completar suas obras. A explicação não pode ser procurada na situação política da época, porque no decorrer da V dinastia os tempos eram prósperos, apesar do poder do faraó ter enfraquecido. Para Davidovits o declínio na edificação dos grandes monumentos ocorreu pelo esgotamento dos recursos minerais. O conjunto dos minerais azuis ou azuis-esverdeados empregados nesse processo de criação da pedra sintética recebeu, desde os períodos mais remotos, a denominação genérica de mafkat. Trata-se de um grupo de 11 minerais que inclui a turquesa, a malaquita e a crisocola, entre outros. No decorrer da III e da IV dinastias houve extração de mafkat em escala industrial das minas do Sinai e de Wadi Maghara. As quantidades extraídas foram enormes.

Não há explicação — afirma Davidovits — para a quantidade imensa de mafkat extraído. Teria desaparecido em comércio com outras nações? Não há dúvida de que o número de peças de joalheria, amuletos e outros objetos feitos ou que incluíam turquesas e outros minerais azuis ou azuis-esverdeados remanescentes é desproporcional ao mafkat que se sabe ter sido escavado. E os artefatos encontrados em regiões que se sabe tiveram antigos laços de comércio com o Egito não pode explicar o volume inusitadamente alto de mafkat extraído.

Calculou-se — prossegue o autor — que atingiu aproximadamente mais de cem mil toneladas a quantidade de mafkat minerado, cerca do mesmo volume de minério de cobre. Supondo que o mafkat entrou com 10% do cimento usado, então cem mil toneladas teriam produzido um milhão de toneladas de cimento. Supondo ainda que até 10% do concreto de calcário da pirâmide é constituído de cimento, então um milhão de toneladas de cimento teria produzido dez milhões de toneladas de concreto de calcário. Mas uma vez que o mafkat era necessário apenas à pedra de alta qualidade, como a usada nos blocos de revestimento, os minerais extraídos das minas do Sinai teriam sido suficientes para construir todas as pirâmides e obras de alvenaria correlatas, tais como pedras de revestimento internas e externas, templos, cimalhas e obras de estatuária.

No decorrer da VI dinastia o Egito tornou-se uma nação menos poderosa e os faraós perderam seu poder absoluto. A arquitetura e as obras de arte entraram em declínio. São raras as estátuas da V e da VI dinastia, sendo que as melhores desse período datam do início da V dinastia. Os faraós da VI dinastia, ao erguerem suas pirâmides, seguiram os métodos construtivos empregados no decorrer da V dinastia, mas os conjuntos funerários circundantes e seus altos-relevos foram menos refinados. Sabe-se que nessa época foram promovidas expedições mineradoras ao exterior e Pepi II, o último faraó da VI dinastia, parece ter mantido comércio longo e ininterrupto com o Líbano, de onde pode ter sido trazida a madeira apropriada à preparação de moldes. Alguns anos depois da morte de Pepi II, o Egito deixou de ser uma nação unificada e mergulhou em um estado de anarquia que durou mais de 200 anos. Davidovits entende que embora possa ter havido má administração e escassez de alimentos causada por mudanças climáticas, como querem alguns estudiosos, há a possibilidade de que a economia tenha ficado cada vez mais deprimida devido à decadência da outrora imensa indústria de construção de obras públicas, o que, com o tempo, abalaria a fé no governo. Em vez de a decadência da civilização ter ocasionado a decadência da indústria de construção, é mais provável que tenha ocorrido justamente o oposto.

Na VII e VIII dinastias houve numerosos faraós efêmeros e nos raros monumentos construídos durante essa época foram empregados apenas materiais de baixa qualidade. Nos recipientes, o barro substitui a pedra, o metal e a faiança. As estruturas nunca alcançaram mais de dez metros de altura, e a maioria sequer chegou a ser completada ou desapareceu.

No decorrer da IX e X dinastias houve luta intermitente e sangrenta entre os egípcios de Heracleópolis e os de Tebas e o país foi novamente unificado durante a XI dinastia pelo faraó Nebhepetre Mentuhotepe, iniciando-se o período que hoje denominamos de Império Médio, tendo Tebas como capital do Egito. Dos faraós da XI dinastia só a tumba de Mentuhotepe foi completada.

Pouca pedra foi usada nas pirâmides da XII dinastia. Seu primeiro faraó, Amenemhet I, economizou no volume de pedra necessário colocando sua pirâmide em terreno elevado. Sesóstris I reinou por 35 anos e enviou expedições às minas de Wadi Kharit no Sinai. Ergueu sua pirâmide em el-Lisht e mandou construir monumentos em profusão por todo o Egito. Estudos para determinar que monumentos foram de pedra cortada e quais de pedra aglomerada proporcionariam importantes introvisões sobre esse período político — pensa Davidovits. Por sua vez, a pirâmide de seu filho e sucessor, Amenemhet II, parece ter sido construída quase que inteiramente com tijolos de barro. E aquele autor comenta: É notável que mil anos após Imhotep, Amenemhet II, durante uma época de prosperidade, tenha julgado necessário recorrer a um método de construção que empregou quase exclusivamente tijolos de barro. A pirâmide do faraó seguinte, Sesóstris II, também era de tijolos de barro, mas o sarcófago encontrado em seu interior é considerado um dos trabalhos mais perfeitos executados em granito pelos egípcios. Seu filho, Sesóstris III, foi um dos maiores faraós do Império Médio, mas sua pirâmide foi erguida com tijolos, enquanto que na câmara funerária e no sarcófago foi usado granito. Ele explorou com empenho as minas do Sinai, mas obteve menores resultados no que se refere a extração de mafkat. Embora já se usasse nessa época ferramentas de metal, ao invés das de sílex, para esse trabalho, os documentos falam do fracasso de várias dessas expedições. Amenemhet III mandou construir em pedra calcária um monumento que ficou conhecido como O Labirinto, mas, ao que parece, os blocos foram removidos de estruturas mais antigas. A pirâmide desse faraó foi erguida em Hawara com tijolos de barro e, dentre as feitas com tal material, é a que apresenta o melhor acabamento. Isso é devido, em parte, segundo esclarece Davidovits, à composição mineralógica dos tijolos que foram feitos com a mistura de soda cáustica (natrão, cal e água) com o barro do lago Moeris. Entretanto, no interior desse monumento existe uma câmara mortuária feita de uma única peça de quartzito. Se essa câmara foi cortada, — afiança Davidovits — o trabalho teria exigido usinagem de precisão por dentro e por fora em uma massa sólida de quartzito duro, o tipo mais duro de pedra. (...) Arriar a estrutura enorme no espaço confinado teria sido o menor dos difíceis problemas. Se a massa fora extraída, o local da pedreira devia ter continuado a existir. As pedreiras de quartzito do Egito não mostram sinais de extração de blocos ou de estátuas, segundo os membros da expedição napoleônica, que fizeram um exame completo das reservas de quartzito do Egito. Por outro lado, quartzito solto, alterado pelo intemperismo, abunda nas proximidades de quase todas as pedreiras dessa rocha e se encontrava em condições de aglomeração.

Na XIII dinastia a câmara funerária da pirâmide do faraó Khendjer, feita de um único bloco de quartzito, pesava cerca de 70 toneladas, mas o monumento em si foi erguido com tijolos. Portanto, durante o Império Médio, embora as pirâmides passassem a ser construídas com tijolos, continuam sendo soberbos os sarcófagos monolíticos e as câmaras de calcário, granito e outras variedades de pedra encontradas no interior das mesmas.

Do período em que perdurou a invasão dos hicsos só se tem notícias em papiros e escassas evidências materiais sobre construção de pirâmides. Quando, após o Segundo Período Intermediário, o poderio egípcio se firmou novamente, pela mão do fundador da XVIII dinastia, Amósis, esse faraó construiu um cenotáfio em Abido com forma piramidal. Ele colocou o povo vencido a cortar pedra nas pedreiras de Tura e a estela de Amósis é o primeiro documento conhecido que se refere a extração de pedra com instrumentos de bronze. Todos os faraós do Império Novo, entretanto, foram enterrados em túmulos escavados na rocha e no território do Egito não mais se ergueram pirâmides. A grande verdade é que o fim da construção das pirâmides marca o encerramento das extrações de minerais em grande escala no Sinai.

O autor que analisamos até aqui conclui afirmando: Entendemos agora a evolução da construção das pirâmides e o motivo pelo qual essas grandes estruturas nunca mais foram erigidas. O emprego de pedra artificial explica por que, à medida que se aprimoravam as ferramentas, as dimensões dos blocos tornam-se cada vez maiores, embora o oposto devesse ter ocorrido, se os blocos tivessem sido cortados. Na ampla perspectiva, compreendemos o que continuou a ser o paradoxo tecnológico do Egito.


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