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A MAIS VELHA MÚMIAFoi em Saqqara, cerca de 24 km ao sul do Cairo, que os arqueólogos descobriram, em 06 de abril de 2003, uma tumba contendo restos de uma múmia que talvez seja a mais antiga evidência de mumificação jamais encontrada. Na realidade foram achados vários ataúdes de madeira intactos, num sítio funerário datado da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.), ou seja, de cerca de 5 mil anos atrás. Um dos esqueletos encontrava-se em posição fetal, voltado para o leste e com bandagens de linho envoltas ao redor de partes do corpo. Ao que parece, apenas as pernas da pessoa foram mumificadas. O esqueleto será radiografado e estudado para determinar o sexo do indivíduo e sua idade no instante da morte. O caixão de madeira também será estudado e tratado com substâncias naturais para ajudar a preservar seu estado.



COVA FUNERÁRIA Sabe-se que no período pré-dinástico, ou seja, anterior ao ano 2920 a.C., os corpos eram enterrados em covas rasas retangulares ou ovais cavadas na areia. O cadáver era colocado de lado, numa postura fetal, enrolado numa esteira de junco ou numa pele de cabra, com a cabeça normalmente apontando para o sul e o rosto dirigido para oeste, permitindo que o falecido visse o pôr-do-sol. Ao seu redor eram dispostos alguns pertences pessoais como pulseiras, colares, instrumentos de caça e vasos contendo comida e bebida. Às vezes tais sepulturas eram revestidas com pranchas de madeira unidas nos cantos por meio de tiras de couro, formando uma espécie de caixão ao redor do corpo. A areia ardente e seca conservava naturalmente o corpo. O calor da areia absorvia a umidade, sem a qual as bactérias não podiam proliferar e provocar a decomposição. Essa forma humilde de sepultamento, ironicamente, preservava o corpo em melhores condições do que o mais elaborado dos túmulos e as mais custosas técnicas de mumificação.

Dois fatores ajudaram os egípcios a perceberem que este processo natural estava acontecendo. Em primeiro lugar as areias inconstantes do deserto tornavam a marcação das sepulturas muito difícil e as covas mais velhas acidentalmente ficavam expostas quando sepulturas novas eram cavadas. Secundariamente, ladrões de túmulos surgiram tão logo os egípcios começaram a encher as sepulturas com objetos valiosos e ao expor as sepulturas ficava claro o efeito que a areia estava provocando nos corpos.

Na medida em que os egípcios começaram a dar maior proteção aos corpos, cobrindo-os com longas cestas de vime e, depois, abrigando-os em robustas caixas de madeira e, mais adiante, em ataúdes completamente fechados e os colocavam em tumbas, isolavam o cadáver das propriedades secantes da areia. Os fluidos permaneciam no corpo, as bactérias se multiplicavam e a carne se decompunha naturalmente. Surgira um dilema: eles não queriam deixar seus familiares apenas completamente cobertos pela areia, mas também não queriam os corpos reduzidos a esqueletos. Para assegurar a sobrevivência e o conforto no além, os cientistas egípcios tiveram que descobrir uma maneira de reproduzir artificialmente as qualidades preservativas do deserto.

A primeira tentativa foi a de manter o corpo isolado de elementos externos. Embrulhavam-no firmemente em tiras de linho ensopadas com resina. Com aplicação cuidadosa destas bandagens, os embalsamadores criaram formas que mantinham os corpos com a aparência de um ser humano. Mas na maioria dos casos as bandagens pouco contribuiam para evitar a decomposição. As bactérias sobreviviam dentro do cadáver e o corpo era, eventualmente, reduzido a um esqueleto. Em 1899, ao escavar a tumba do faraó Djer, da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.), o arqueólogo britânico Flinders Petrie descobriu a mais antiga tentativa conhecida de preservação até então. Na parede de tijolo da tumba ele achou a parte inferior de um braço que tinha sido embrulhado em muitas camadas de bandagens. Embora um começo, este processo de envoltura por si só não havia impedido o corpo de se deteriorar.

Como os egípcios acreditavam que itens que se parecessem com o defunto poderiam servir como seu substituto no caso do corpo ser destruído, o objetivo tornou-se o de criar um envólucro permanente que se parecesse com o defunto embora o corpo se deteriorasse interiormente. A resposta estava em usar pano de linho saturado com resina ou coberto com gesso e moldá-lo ao redor do corpo. Na medida em que a resina ou o gesso secavam, endureciam na forma moldada. Cuidado especial era tomado na moldagem do rosto, para que ele pudesse ser facilmente reconhecível. A face também poderia ser pintada para aumentar a semelhança com a realidade.

Através da experiência, os egípcios se deram conta de que a decomposição se dava principalmente de dentro para fora e que as bactérias existentes inicialmente nos órgãos internos do corpo se espalhavam a partir daí. Os embalsamadores perceberam que para deter o processo de putrefação, teriam que remover os órgãos internos. Foi isto, combinado com a descoberta das propriedades naturais de secagem do natrão, que resultou nas famosas múmias egípcias que conhecemos hoje.

Foi no decorrer da IV dinastia (c. 2575 a 2465 a.C.) que começaram os procedimentos para o verdadeiro embalsamamento. Pela primeira vez alguns dos órgãos internos do cadáver foram retirados através de uma incisão no abdômen, um processo que ajudou a reduzir a velocidade da decomposição do corpo. Os órgãos retirados foram guardados e embrulhados em linho encharcado de resina. Às vezes eles eram colocados em recipientes; às vezes eles eram colocados em áreas especiais nas paredes de tumba. O processo de embrulhar o corpo em linho continuou porque só a remoção dos órgãos internos não preservava o cadáver por muito tempo. O corpo era embrulhado numa posição completamente estendida porque era mais fácil remover os órgãos internos pelo abdômen com o corpo nesta posição.

Métodos químicos de preservação estavam certamente em uso por volta de 2700 a.C. Os métodos usados entre 1567 e 1200 a.C. foram os mais efetivos na preservação dos corpos. Entretanto, alguns corpos foram encontrados na localidade de Hieracômpolis, na região sul do vale do Nilo, que mostram sinais de mumificação com resina e linho e são datados de cerca de 3400 a.C. Portanto, o quadro ainda não se desenha com clareza para os egiptólogos no que se refere ao primeiro corpo mumificado por métodos artificiais.